terça-feira, agosto 03, 2010

Após dois anos negros, o mercado do diamante volta a brilhar

03/08/2010 - 00h47 Após dois anos negros, o mercado do diamante volta a brilhar

Marc Roche
Londres (Inglaterra)

Modelo mostra diamante azul de 5,16 quilates em leilão

Dois fulgores para deleite dos olhos. Expostos até dia 15 de agosto no Hôtel de Paris em Mônaco, o Constellation, com 102,79 quilates de pura brancura, e o Delaire Sunrise, com 118,08 quilates de um amarelo intenso, ilustram “o entusiasmo de nossos clientes pelos diamantes únicos e da mais alta qualidade”, segundo François Graff, diretor-geral da Graff Diamonds, empresa criadora dessas duas pedras excepcionais. Após o colapso desses dois últimos anos, o comércio de joias volta a cintilar...

Não existe uma cotação oficial do diamante, assim como não há duas pedras iguais. Além disso, desde que se tornou uma sociedade privada, o grupo sul-africano De Beers, principal produtor mundial, não publica mais seus preços de referência. No entanto, uma série de indicadores destaca que, após a depressão de 2008-2009, o famoso slogan publicitário da De Beers, “um diamante é para sempre”, anda bem atual.

Para começar, a De Beers anunciou em 23 de julho excelentes resultados no primeiro semestre de 2010: aumento nas vendas de 84%, dobro da produção, lucro líquido de US$ 255 milhões (R$ 446 milhões), ante US$ 3 milhões no período correspondente de 2009, e redução de metade da dívida.

Em seguida, o faturamento da venda de joias organizada em maio pela casa de leilões Sotheby’s, em Genebra, chegou a US$ 54 milhões (R$ 94,5 milhões), ante US$ 39 milhões durante a manifestação em 2009. “O mercado de joias e diamantes de qualidade superior está muito bom nesse momento. À recuperação das vendas nos Estados Unidos e na Europa se somou a demanda dos países emergentes que apreciam pedras e criações de prestígio”, afirma David Bennett, diretor de joias da Sotheby’s para a Europa e o Oriente Médio. Enquanto as compras dos ricos do Golfo aumentam, a China está prestes a ultrapassar os Estados Unidos como principal consumidora de joias e de pedras polidas. A Índia segue de perto a China, e a América do Sul se revela promissora.

Além disso, os bancos especializados em financiamento da indústria de diamantes estão voltando a emprestar às grandes cadeias de joalherias cujos estoques estão em baixa.

Outro fator positivo, as taxas de juros historicamente baixas favorecem os ativos tangíveis como as gemas. Nesse período de retomada da inflação, as joias de carbono puro constituem um bom investimento seguro. Apesar de o valor de um diamante ser mais volátil que o preço do ouro, ele não está sujeito às incertezas das “bolhas” especulativas. A transparência dos leilões online ou o aumento dos fundos de investimento especializados em diamante reduziram os obstáculos para o investimento em diamantes (dificuldade de venda e comissões exorbitantes).

A oferta, por sua vez, não acompanhou esse forte aumento da demanda. Os grandes grupos mineradores, como a anglo-australiana BHP Billiton, a russa Alrosa ou a De Beers, têm mantido sua política de austeridade e de redução drástica dos custos, em detrimento da atividade extrativa ou da exploração de novas jazidas.

Por fim, a autorização dada pelo Processo de Kimberly ao Zimbábue para vender uma certa quantidade de diamantes evita uma nova controvérsia sobre as “pedras de sangue”, prejudicial aos negócios.

No entanto, três fatores levam os profissionais a manterem a cautela. Para começar, a estabilidade do dólar, a moeda de referência, em relação ao euro ou ao iene, assim como a incerteza sobre a cotação do yuan, poderão limitar o aumento da demanda pelas pedras de tamanho e qualidade médios. Além disso, o clima econômico mundial continua frágil, especialmente nos mercados americano, japonês ou europeu. A degradação do clima social em certos países produtores poderá também incentivar suas sociedades mineradoras a aumentarem a produção.

Apesar dessas incertezas, a ode de Marylin Monroe, “Diamonds are a girl’s best friend” (“Os diamantes são os melhores amigos das mulheres”) no filme “Os Homens Preferem as Loiras”, está por toda parte. A ponto de o primeiro-ministro britânico David Cameron, durante sua recente visita à Índia, ter se sentido obrigado a relembrar a recusa do Reino Unido em devolver o lendário Koh-i-Noor, que decora a coroa real exposta na Torre de Londres.


Tradução: Lana Lim

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